29 de dezembro de 2010

Chegando e saindo do Brasil para estudar

Um ano de intercâmbio em Portugal regado a novas amizades, aventuras e mochilões renderam-me, além da impagável experiência de viver fora, ótimos anos pós-intercâmbio. Depois de ser recebida por amigos e amigos de amigos na Europa inteira, quando voltei ao Brasil, foi minha vez de receber pessoas na minha casa e na casa dos meus pais. Foi muito gostoso passar os últimos 3 anos tentando ajudar e mostrando o melhor de São Paulo, Vale do Paraíba e Ubatuba principalmente.  Mas o mais confortante foi ouvir que todos sempre gostaram e que estou sendo até indicada como "Guia da cidade São Paulo" para intercambistas.
Assim, praticamente 5 anos depois de ter começado a me preparar para sair do Brasil e, se tudo der certo, preparando-me para sair novamente, decidi escrever alguns posts sobre essa experiência, com a esperança de que seja útil para brasileiros que pretendem fazer ou estejam fazendo intercâmbio na Europa e para intercambistas chegando em São Paulo. Pretendo contar com a colaboração de outros amigos estrangeiros e brasileiros que tiveram experiências diversas. Além disso, buscarei fazer os posts para intercambistas chegando ao Brasil em inglês.

4 de dezembro de 2010

Sabores do Brasil...

Com essa história de fazer aula de japonês na Liberdade pelo menos duas vezes por semana bem na hora da fominha e sempre ver vocabulário daquelas coisas deliciosas nos estudos (todo dia, sem chance de escapar), eu comecei a praticamente viver da vontade de comer comida japonesa. Sábado virou dia de Nandemoya, um restaurante de comida oriental por quilo que fica meio escondido mas está sempre lotado, e do Takoyaki da Rua Galvão Bueno (não lembro o nome do mercadinho onde fica o Sr. simpático, mas fica na altura do nº 270).

Recentemente, antes das aulas de sexta, fui também ao Kohii e ao Aska. O Kohii, criado por descendentes de japoneses, nasceu a partir de uma concepção menos tradicional. Segundo o gerente, a ideia foi desenvolver um cardápio e oferecer um ambiente brasileiros, mas sempre com um toque das raízes japonesas. Na minha opinião, foi muito bem sucedido e merece visitas! Já o Aska, é o Lámen mais tradicional da cidade, junto com o Porque Sim e o Lamen Katsu. No cardápio, só o tradicional, sem muitas opções (ótimo para os indecisos como eu), mas vale a pena! É saboroso e barato!

Mas eis que começa a chegar um pouco de ansiedade pela hora de partir e percebo que preciso me livrar dessa vontade e voltar a comer coisas da minha terra. Momento de parar e pensar necessariamente "preciso comer tudo de que vou sentir falta" (sem duplos sentidos, por favor!).

Comecei por repescar minhas experiências anteriores: do que senti falta em Portugal? Na verdade, não tive vontades absurdas de várias coisas. Como os pratos portugueses são fantásticos e baratos, eu me distraía bem. Além disso, eu praticamente comia um pão diferente a cada dia no café da manhã e no café da tarde, de tantas opções (todas boas) que havia. Ai, como eu sinto falta do bacalhau com natas e da broa alentejana! Ah, não posso me esquecer de que foi lá que aprendi a tomar café, de qualidade média muito melhor do que no Brasil. O café da cantina da faculdade era comparável a um Santo Grão e me custava 0,90euros (ou noventa cêntimos, como dizem os portugueses).

Mas eu cansei de passar longos períodos comendo só um tipo de fruta. Funcionava assim: eu ia ao supermercado e, durante muitas semanas, tinha pêra, pêra, pêra e pêra no mesmo preço médio do quilo de maçã aqui no Brasil, por exemplo. Isso era o mais barato. Pra lá disso, encontravam-se mais umas duas opções por uns 2,5euros/kg e todo o resto a pelo menos 5euros/kg. Como meu budget só permitia a fruta da estação... Senti falta também da incrível variedade que há em São Paulo para todos os bolsos! É bem possível comer muito em um mexicano ou japonês por R$ 30 (prova disso são o Si Señor e o Nandemoya). Além disso, pizza a R$ 15 é algo bem comum aqui. Lembro-me também que a carne bovina lá, importada da Irlanda, é tão ruim que eu sempre abria mão dela por um filé de porco, peixe ou frango. Só ao fim um dia do intercâmbio, veio uma grande vontade e me dei ao luxo de um pedaço de picanha, que nem foi difícil de encontrar e tampouco caro.

Aproveitei essa onda de calor, então e comecei a comer fruta em uma quantidade, variedade e frequência com que não comia antes... E descobri que não se trata mais só de comer tudo o que eu já conhecia de bom, porque finalmente fui à Sorveteria Frutos do Cerrado e me dei conta de que ainda tenho que descobrir uma imensidão. Quanta riqueza há no Brasil! E quão pouco conhecemos da nossa terra... Fiquei feliz de ver e provar tantos sabores diferentes, mas fiquei triste de saber que não sabemos apreciar nossa terra e nossos sabores, especialmente de tudo o que está acima de São Paulo. O cerrado, a caatinga e a Amazônia têm tanta coisa a nos oferecer de modo sustentável, mas por enquanto, só nos rendemos ao açaí, que está longe de ser o mais saboroso. Confesso também que fiquei com vergonha na frente da atendente da sorveteria: eu nunca tinha visto metade nos nomes que estavam acima das embalagens (Mangaba? Oi?).

Ao lado, do mesmo dono, há um restaurante de comida típica do Mato Grosso do Sul. Adivinha qual é a especialidade? Soba! Sim, o mesmo soba que veio de Okinawa é comida tradicional no Mato Grosso do Sul. Claro que amo essa pura demonstração de integração cultural!

19 de outubro de 2010

Economia aplicada e Mostra Internacional de Cinema

A orgia gastronômica ainda permanece como um importante objetivo na minha vida. Entretanto, grandes pensadores de uma importante ciência social já têm dito: os recursos são escassos e precisamos utilizá-los de maneira eficiente, aplicando uma ou outra correção para sanar a falta de equidade ou as falhas de mercado. 

"People face tradeoffs", 1º princípio da Economia segundo Mankiw
Como meu tempo se tornou mais escasso e quero fazer muitas coisas com ele, tive que fazer escolhas e deixei a cozinha um pouco de escanteio. 

"The cost of something is what you give up to get it", 2º princípio
Mas ainda não aprendi a fazer fotossíntese e, portanto, preciso comer para sobreviver. Com a escassez dos recursos tempo, paciência e dinheiro, tentei cozinhar coisas menos elaboradas e sendo mais rápida, sem  desrespeitar a regra "comer com dignidade" (faço referência ao post em que explico as conseqüências de se tornar bem sucedido na cozinha). Resultado: fracasso! Seria melhor ter sido humilde e optado pelo "pão na chapa" acompanhado de café com leite. Confirmei, assim, que o segredo da cozinha é ter bons ingredientes, tempo e paciência. Assim, o custo de não investir nisso é comer MAL!

Análise dos resultados
Não estou descontente com as escolhas feitas e com os custos de oportunidade!  A partir do dia 22/10, meu escasso recurso tempo será investido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A programação saiu hoje e contém mais de 400 filmes! Assim, tive que estabelecer critérios para selecionar alguns filmes a serem vistos nas próximas duas semanas - afinal, levaria um tempo absurdo verificar a sinopse de cada filme antes de escolher. 

O primeiro critério foi randômico: selecionei os títulos de que gostei. O segundo foi a nacionalidade: quero aproveitar a Mostra para ver filmes de nacionalidade diferentes, saindo um pouco do circuito centro-europeu (ultimamente, estou preferindo ver filmes orientais, latinoamericanos e de países da ex-União Soviética). Independentemente desses dois critérios, verifiquei a sinopse dos filmes que serão candidatos ao Oscar de 2011. Por fim, escolhi as prioridades e os horários de acordo com as salas gratuitas. 

O resultado foi a tabela abaixo, que divulgo como convite a virem comigo à mostra! Tenho certeza de que, se o filme foi ruim ou decepcionante, pelo menos abrirá a mente para o universo de uma cultura diferente!

22/10
Sexta
HISTÓRIA MUNDANA (JAO NOK KRAJOK), de Anocha Suwichakornpong (82'). TAILÂNDIA.
MATILHA CULTURAL
14h
Gratuito
23/10
Sábado
ADEUS TIBET (GOOD BYE TIBET), de Maria Blumencron (90'). ALEMANHA
MATILHA CULTURAL
14h
Gratuito
23/10
Sábado
RIO DOOMAN (DOOMAN RIVER), de ZHANG Lu (89'). CORÉIA, FRANÇA.
MATILHA CULTURAL
15:50
Gratuito
23/10
Sábado
A AVIADORA DE KAZBEK (DE VLIEGENIERSTER VAN KAZBEK), de Ineke Smits (104'). HOLANDA
MATILHA CULTURAL
17:40
Gratuito
23/10
Sábado
HISTÓRIA MUNDANA (JAO NOK KRAJOK), de Anocha Suwichakornpong (82'). TAILÂNDIA.
CCSP
16h
Gratuito
24/10
Domingo
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA (O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA), de Manoel de Oliveira (95'). PORTUGAL, ESPANHA, FRANÇA, BRASIL.
MIS
20h
Gratuito
25/10
Segunda
CIRKUS COLUMBIA (CIRKUS COLUMBIA), de Danis Tanovic (113'). BÓSNIA, HERZEGOVINA
CINE LIVRARIA CULTURA 1 e 2
10h e 14h
Gratuito
26/10
Terça
HISTÓRIA DE KYOTO (KYOTO UZUMASA MONOGATARI), de Yoji Yamada, Tsutomu Abe (90'). JAPÃO.
CINE LIVRARIA CULTURA 1 e 2
10h e 14h
Gratuito
26/10
Terça
CAFÉ - ENTRE REALIDADE E IMAGINAÇÃO (CAFE - BEIN METZIUT LEDIMION), de Direção Artística do projeto: Yael Perlov (95'). ISRAEL
MIS
10h
Gratuito
26/10
Terça
KON KON (KON KON), de Cecilia Vicuña (61'). CHILE.
Matilha Cultural
17:40
Gratuito
28/10
Quinta
A SOCIEDADE DO SEMÁFORO (LA SOCIEDAD DEL SEMÁFORO), de Rubén Mendoza (110'). COLÔMBIA, FRANÇA.
MIS
15:50
Gratuito
30/10
Sábado
BI, NÃO TENHA MEDO (BI, DUNG SO!), de Dang Di Phan (90'). VIETNAM, FRANÇA, ALEMANHA.
CCSP
20h
Gratuito
31/10
Domingo
CAFÉ - ENTRE REALIDADE E IMAGINAÇÃO (CAFE - BEIN METZIUT LEDIMION), de Direção Artística do projeto: Yael Perlov (95'). ISRAEL
MIS
10h
Gratuito
04/11
Quinta
SÓ ENTRE NÓS (NEKA OSTANE MEDJU NAMA), de Rajko Grlic (87'). CROÁCIA, SÉRVIA, ESLOVÊNIA.
Matilha Cultural
16h
Gratuito


* Durante a seleção dos filmes, observei algumas coisas interessantes em relação à curadoria. Pretendo comentar este assunto em outro post.
** No próximo post, falarei de filmes não gratuitos que pretendo ver e serão encaixados brevemente na minha programação.
*** Estou curiosa para conhecer o Matilha Cultural. Parece um projeto muito interessante.

17 de setembro de 2010

Torta de frango

Atendendo a pedidos, vou postar a receita da Torta de frango do meu pai. Parece que está fazendo O sucesso na comunidade coreana em Hanói \o/


Massa para uma forma pequena
3 copos americanos de farinha
180 de manteiga
1 colher de café de sal (mais ou menos)
1 colher de sopa rasa de fermento em pó (se não tiver não fará muita diferença)
2 ovos inteiros
1 gema para pincelar (misture um pouco de óleo nela)
Peneirar o fermento sobre a farinha, acrescentar os demais ingredientes e, com os dedos, misture tudo até obter uma massa homogênea. Usando as mãos, abra a massa no fundo da forma . A parte de cima da torta se abre sobre um pedaço de plástico ou papel manteiga.

Recheio
No caso de frango, um peito de frango é suficiente
Doure o frango no azeite ou óleo (se utilizar urucum ou açafrão, fica mais bonito e saboroso). Acrescente por volta de 2 litros de água e cozinhe o peito de frango. Quando estiver bem macio, retire a água que sobrou e reserve-a. Deixe o frango esfriar e, depois, desfie.
 Em um pouco de óleo ou azeite, doure o alho e a cebola picadinha. Acrescente o frango desfiado, mexa bem, coloque um pouco da água água que sobrou do cozimento do peito de frango (o suficiente para não ficar muito seco). Desligue o fogo, acrescente um pouco de salsinha e cebolinha picadas.
Creme para misturar com o frango para o recheio
Pode ser o molho branco ou também (o que usamos mais) batatas cozidas e amassadas . Neste caso, lave, descasque e corte a batata em cubos. Cozinhe até amolecer, amasse, acrescente a água que sobrou do cozimento do peito de frango e deixe cozinhar até virar um creme. Por fim, acrescente o peito de frango preparado e ervilhas, ou crie sua mistura. Deixe cozinhar mais um pouco para os ingredientes pegarem o sabor. Retire do fogo e deixe esfriar um pouco antes de jogar sobre a massa.

Depois que terminar de montar a torta, pincele com a gema e leve ao forno.

Confesso que dá bastante trabalho, mas vale a pena! ^^
Bon apetit!

12 de setembro de 2010

Rumo à orgia gastronômica

Para quem não entendeu muito bem ainda, vou expôr a simplicidade da questão: estou precisando liberar  a  libido acumulada utilizando meio alternativos. Já me conformei com o fato de que não vou namorar ninguém pelo menos nos próximos meses (confirmado por Susan Miller); quiçá nos próximos anos/nunca. Confesso que estou um pouco enjoada de expressões artísticas, ou seja, sem muita paciência pra ver filmes, ir a concertos ou visitar galerias e museus. Concluí que definitivamente não sou uma "persona balada". Acho que sou incapaz de praticar homicídio. Oras, só me resta então cozinhar e comer! Para os preocupados de plantão, eu já aviso: não, não vou engordar  loucamente, simplesmente porque não aguento comer muito. A ideia é comer bem. Portanto, sintam-se convidados a participar de meus experimentos rumo à orgia gastronômica. As últimas experiências foram as seguintes. 

02/09 - torta de frango (receita do meu pai)
A torta ficou fantastique. Só faltou um pouquinho de sal. Mas, aqui, eu tenho um ponto a meu favor: melhor sem sal do que muito salgada! Passei uns três dias comendo torta. para compensar as quase 3h que gastei fazendo a bonitinha. Tentei congelar pra ir alternando com outras coisas, mas estava muito boa e eu não resistia em recorrer a ela. Ah,  tive ajuda da Isabelle pra terminar de comer e poder cozinhar outras coisas!

09/09 - bolo de cenoura (receita da minha mãe) com cobertura de brigadeiro feito com cacau em pó (o bolo ficou muito doce, então precisava dar uma quebrada), berinjela à moda italiana (receita do Breno Lerner)
O bolo murchou e virou praticamente brownie de cenoura... Isso aconteceu porque eu decidi colocar a berinjela mais um pouco no forno enquanto o bolo assava. Abre forno, fecha forno, o bolo ó: nhóóóóim.  Mas ainda assim ficou gostoso (mais ainda pra uma pessoa como eu que não é muito fã de bolos fofos - nos dois sentidos) e está aqui de sobremesa e para beliscar. 
A berinjela ficou maravilhosa (e tenho dito: poderia viver de berinjela), mas o único problema foi eu deixar o alho queimar um pouco na hora de refogar. Na segunda leva, tomei mais cuidado, pois um alhinho queimado afeta o gosto tão bom da berinja.

11/09 - Ajiaco (receita da Clau), pão-de-queijo (receita do meu pai) com pimenta rosa, pão pita (receita da Angela)
Ajiaco parece a coisa mais simples do mundo. Não botei fé quando vi a receita e nem quando comecei a fazer. Mas foi uma das melhores coisas que comi na vida! Combinação improvável: batata cozida com milho, que se serve acompanhada de creme de leite, alcaparras, frango desfiado e abacate. 
A massa do pão-de-queijo ficou perfeita pela primeira vez em muitas tentativas!!! E a pimenta rosa deu um toque especial! 
O pão ficou bom na hora, mas agora está mais pra torrada do que para pão. O que importa é que está saboroso e eu estou cogitando começar a fazer pão em casa ao invés de comprar...

12/09 - peixe assado recheado (recheio receita da Angela)
Totalmente aprovada a minha primeira tentativa de peixe assado. Mas foi uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida cortar legumes à Julienne. Eu fiquei imaginando meu dedo sendo cortado em várias partes e muito sangue saindo a cada corte que eu realizava. Quando terminei, foi um dos momentos em que me senti mais aliviada EVER!

Bem, entre uma fornada e outra, cortei um frango em 8 partes pela primeira vez na minha vida. Parece-me que deu certo! E amanhã sairá um xinxim de galinha (receita do Breno Lerner) \o/

22 de agosto de 2010

A vida é uma piada

Para aqueles que não sabem, antes de desenvolver minha dissertação de mestrado na área de cooperação internacional, desenvolverei a tese "A vida é uma piada". Consiste em algo simples de comentar em uma mesa de bar, mas nada fácil de provar. Isso ocorre porque a maior parte dos elementos empíricos a serem utilizados pode ser vista de maneiras diametralmente opostas, a depender do ponto de vista do observador, como demonstrado em muitas pesquisas publicadas por uma das instituições mais sérias e respeitadas do mundo.

Vc percebe que a vida é uma piada, quando acorda pensando "ó céus, faço tudo certo e só dá m#$%@" e depois vai dormir pensando "caramba hein... só deu confusão e no fim acabou dando certo". É nesse momento que vc percebe que a vida fez schupleft na sua cara. Vc confirma que a vida é uma piada quando desrespeita o Paradigma do Carneiro para Perguntas e Respostas (antes de fazer uma pergunta, pense: (i) eu sei a resposta? Sim? Então não vou perguntar; ou (ii) eu não sei a resposta! Mas... eu quero mesmo saber? Não? Então não vou perguntar), insiste numa pergunta e a resposta faz schuplaft na sua cara.  Vc se sente a própria tese quando começa a perceber que vc é normal comparada às bizarrices do mundo.

Muitas pessoas explicam isso com a existência de um ser superior, o que não deixa de ser uma boa resposta. Afinal, só sendo mesmo superior a tudo que existe na face da Terra para ser inquestionavelmente o maior piadista jamais visto. O problema é que concluir minha tese com essa resposta não seria científico, mas sim terminar irracionalmente a discussão. Creio que o acaso do destino, quer dizer, um novo roteiro de piada me colocou na busca dos elementos probatórios da minha tese:
1) conheço pessoas que nasceram na década de 90;
2) voltei a ser analfabeta e comecei a aprender uma língua que tem tão-somente 3 sistemas de escrita, sendo que, em um deles, uma pessoa é considerada alfabetizada quando aprende 2.000 caracteres;
3) vou viver em um lugar onde boa parte dos homens pede em namoro antes de dar o primeiro beijo.

Ah, com certeza termino essa tese antes de começar o mestrado...

31 de julho de 2010

Ócio + gastronomia = combinação fatal

Entre o meio de junho e o início de julho foi minha saga gastronômica. Saquei do bolso algumas receitas que tinha guardadas e decidi deixar de ser aquela que só esperava a comida ficar pronta, porque sempre achou que as amigas cozinhavam melhor. Ok, é difícil concorrer com uma pessoa que fez gastronomia e outra que cresceu na cozinha com as mamas ucranianas, mas lições aprendidas: cozinha só se aprende fazendo e nem sempre a mesma receita vai dar certo.
De ruim, ganhei apenas um dedo quase cortado ao meio (seguido de um desmaio) e alguma semi-desidratação com cositas que ficaram salgadas demais. Talvez eu tenha ganhado alguns gramas também... Mas isso foi mais pro final, quando cheguei na feijoada... Ficou tão boa, que passei dois dias almoçando e jantando feijoada! Só não foi apreciada também no café da manhã, porque eu estava acordando já na hora do almoço.
Comecei pelo cachorro quente ao molho picante, receita que queria fazer há séculos, desde que a vi no blog da Gigi. Para os preguiçosos, eu vou copiar a receita, aqui. É ultra-fácil e tem um sabor recompensador da ardência embaixo das unhas. Ah, a foto também é dela, já que eu não tenho câmera e não tirei foto do meu experimento.


 
INGREDIENTES:
1 tomate médio
2 colheres de sopa de alho-poró picado
1 dente de alho
1 pimenta dedo-de-moç
sal e pimenta-reino à gosto
MODO DE PREPARO:
Picar todos os ingredientes. Retirar as sementes da pimenta se não quiser um molho muito picante. Refogar tudo com um pouco de azeite (primeiro o alho, depois o alho-poró, a pimenta e o tomate) e pronto! Se quiser um molho menos “pedaçudo”, deixe a panela tampada em fogo bem baixo por uns dois minutos no máximo.
Obs.: O nível de ardência pode variar conforme o gosto do cozinheiro. O meu foi ultra-picante. O resultado foi acompanhado de uma brejinha.

Depois de algumas semanas de experiências, eu só posso dizer que vale a pena. Mas tem os inconvenientes: (i) dá vontade de aprender cada vez mais, mas, se gastronomia não vai ser sua profissão principal, não é fácil e nem barato aprender muito; (ii) quando não dá tempo de fazer alguma coisa legal, a gente perde a vontade de fazer a comida e já não há mais paladar pra comer qualquer gororoba e vc passa uma boa parte do seu dia se perguntando "ó céus, o que comerei hoje?"; (iii) dá muita vontade de fazer as coisas em casa, pois em São Paulo, qualquer porcaria custa os olhos da cara e vc percebe que consegue fazer muito melhor por menos de 1/3 do preço; (iv) a maior parte das coisas especiais leva itens que, se eu consumir o tempo todo, provavelmente vou começar a ter problemas.
O jeito é tentar achar um equilíbrio. Uma boa forma é começar a fazer aulas na liberdade e comer por lá pelo menos uma vez por semana. Falando nisso... Japonês é uma língua de outro mundo... Mas isso fica pra próxima!

13 de julho de 2010

Rituais

Nesta semana comecei a ter meu primeiro contato verdadeiro com uma língua oriental. Se aprender uma língua nova já é uma experiência quase de outro mundo, aprender uma língua do extremo oriente então... Depois da minha primeira aula, não só eu estava animada para contar as coisas engraçadas, mas todos meus amigos também estavam curiosos para saber um pouquinho do lugar que fica pra lá da China. A parte interessante das reações aos meus relatos foi ouvir de quase todos "nossa, como os japoneses são cheios de rituais, né?". E eu fiquei matutando, porque eu não tinha pensado nisso nem durante e nem depois da aula.

Desde que retornei de Portugal, tenho convivido com muitos intercambistas aqui no Brasil e, passei a ter a oportunidade de vivenciar o português como língua estrangeira e a cultura brasileira como algo a ser divulgado e valorizado, ou seja, algo além daquilo que perpassa meu cotidiano e minha vida natural. Depois dessa experiência, passei a ter uma percepção diferente a respeito da minha língua materna e também da função da língua numa sociedade (a comida também ocupa um lugar importante, mas isso será tema para um próximo post).

Colocando lado a lado o japonês com o português, não creio que um seja mais ritualístico que o outro. Talvez o português brasileiro seja mesmo mais informal, porque os brasileiros em geral tendem a ser mais informais nas suas relações, mesmo as hierárquicas. Mas quem disse que apertar as mãos não é um ritual? E  vai me dizer que vc nunca viu um carioca passar vergonha em São Paulo porque aqui se cumprimenta com só um beijo no rosto, e não dois?

Eu nunca estudei antropologia, mas realmente gostaria de conhecer a razão e a função dos rituais, pois eles são tão relevantes na nossa vida, que abandoná-los para começar a praticar outros causa grandes impactos e dificuldades de adaptação. Passar a controlar o impulso de estender as mãos e, em lugar  disso, mecanizar o movimento de se curvar dizendo "dozo yoroshiku onegaishimasu" sem rir me parece muito mais complicado do que me sentir uma analfabeta por não ler hinagara e katana.

4 de julho de 2010

Todos os nomes

O título deste post convém, pois é também o título de um livro de um dos escritores que mais leio e que morreu recentemente: José Saramago. Mas não é sobre o livro que vou falar, mas sobre nomes mesmo.

Neste fim de semana, visitei um primo distante cuja mulher atual decidiu por livre e espontânea vontade dar aos filhos nomes que iniciam pela letra K. Até aqui, tudo bem... Ocorre que seus filhos não se chamam Kátia e Karolina, por exemplo, mas Kassem, Kelvin e Karen. Esta última, que tem justamente a o nome mais normal, decidiu chamar sua filha de Kevelyn!

No mesmo fim de semana, ao começar a ler um artigo sobre Direito Ambiental, eis que me deparo com uma autora chamada Cinnamon. Não que eu vá respeitar menos o trabalho dela... Muito pelo contrário! Mas considerando o quão pequeno o mundo jurídico é, acredito que no futuro eu a encontre por aí e que será bem difícil segurar uma piadinha ao sermos apresentadas. Imaginem a Professora Cinnamon sendo anunciada na abertura de uma Conferência "teremos conosco Cinnamon" e plateia pensando "que raios... Prefiro cravo!".

Ok, eu me chamo Maybi e sempre penso bem antes de falar de nomes alheios (especialmente antes de falar MAL)... Mas meu nome, apesar de sempre ter causado dificuldades de pronúncia (ainda que eu não entenda por quê, uma vez que basta pronunciar como se lê), nunca me causou constrangimentos, não foi inventado e não é nome de comida em nenhuma língua moderna!

28 de junho de 2010

Clichê, chérie? Non, merci!

Voltando lá em abril... 
Logo depois de Soul Kitchen (aliás, o post foi em inglês porque coloquei no profile do site de cinema que recomendo muito, o The Auteurs), assisti A Serious Man. Por coincidência, a temática era a mesma de Soul Kitchen: como a vida muitas vezes se encarrega de fazer tudo dar errado sem uma mãozinha de ninguém (o mote do personagem principal é "eu/ele não fiz/fez nada!"). E, por incrível que pareça, também era uma comédia, dos irmãos Coen. 

Foi interessante ver duas comédias sobre tragédias cotidianas da vida para observar como isso pode ser abordado de maneiras tão diversas e como realmente tais tragédias são dignas de riso. Enfim, não adianta procurar o rabino e imaginar que haja uma resposta sábia e definitiva pra tudo. O mundo realmente dá voltas! Assim, mesmo que alguém fique parado, pode ser que a tragédia esteja vindo na sua direção.

Os dramas feitos com essa temática também são muito bons pra alma, como o filme de produção franco/alemã Cherry Blossoms. Esse foi o terceiro da série de filmes orientais a que assisti mais recentemente e entrou para a minha humilde classificação "estou cada vez mais impressionada com o modo como japoneses e coreanos tem sensibilidade para expresssar as emoções e o drama de maneira tão intensa e bela".

Além de recomendar esses filmes, tudo que posso dizer é que sou uma cobaia de "o mundo realmente dá voltas", seja para acontecer coisas boas ou ruins. As ruins me renderam boas histórias para posteridade e as boas estão rendendo muitas novas emoções.

11 de abril de 2010

Soul Kitchen

First challenge of the weekend: to have company to go to the cinema.
Usually I like to go to the cinema alone, because I don't like to think the other person isn't going to like the film I've chosen after reading and re-reading the film guide so many times.

Second: to chose something the other person wants to watch.
What if you like and the other doesn't like? I confess... this is a disaster for me.

Third: give up on your choice to watch what the other wants.

I was hoping to watch Das Weisse Band  but my dear friend was tired of films about nazism and the big wars.

That's how I've chosen Soul Kitchen, German-Greek production supposed  to be fun.When I arrived at the
cinema, I saw the director was Fatih Akin... Well, the last film I saw directed by him was Gegen die Wand and instantly thought "Soul Kitchen is going to be fantastic". Soon after, I thought "Thomaz will hate that". But both of us lauhgt a lot and left the cinema happier.
It wasn't a complex history about life, universe and its everyday drama. It was what I call "a story easy to assimilate". And because it isn't easy to make a great film based on an relatively easy screenplay, Fatih Akin demonstrated he is definitely a genious.
All the terrible things in the world happens to Zinos Kazantsakis (the main character) and he doesn't make use of positive thinking. He gets mad, as me, you and even Thomaz! But Fatih shows them to us with a non-dramtic view and the audience keeps laughing... I'm sure everybody thinks "great that this is not happening to ME". So the formula is laugh on the other's tragedy... And feel relieved when things are fixed.

I admit that's not easy to laugh on our own tragedy. But this film made me think we may laugh on our own tragedy more frequently, making life funnier. Also, we can make great things of simple thoughts. in synthesis, probably life is really simpler than we realize.

17 de fevereiro de 2010

Dry Summer

Pra ser sincera, ao longo dos anos acabei por me limitar ao cinema francês. Não sei... Vi e gostei. Como quase nunca me desapontei, continuei vendo. Ao fim, acabei por criar um preconceito em relação a filmes de outras nacionalidades o qual se resumia em "Ok, vou ver! Mas acho que não vou gostar". Continuo mantendo os franceses na lista, mas resolvi (1) tentar gostar de Quentin Tarantino; (2) ver filmes das mais diversas nacionalidades. A proposta 1 foi um fiasco... Entretanto, ainda não vi Inglorious Bastards e então pode ser que ainda exista salvação. A proposta 2 começou bem com Susuz Yaz (Dry Summer). 

Susuz Yaz é um filme turco, da década de 60, ou seja, preto e branco e com legendas em inglês. Ufa, ao menos não é mudo! Ainda assim... Difícil de digerir no começo!  No entanto, com o desenrolar desse longa metragem, a trama e os diálogos singelos vão envolvendo. São apenas três personagens principais: camponeses cuja pequena propriedade fica a montante de um riacho. O "vilão" quer controlar a água, para tê-la em quantidade suficiente para plantar na primavera e colher no verão. Seu irmão (o mocinho) e a mulher deste (a mocinha) são contra essa atitude, pois acreditam que a água é de todos, incluindo os camponeses que tem sua terra a jusante. Em um dos conflitos que ocorrem após o vilão construir - se é que se pode chamar assim o engenho rústico - uma barreira que impedia a vazão da água, o mocinho acaba sendo preso e sua mulher fica sob o mando do vilão, que nutre uma lascívia amedrontadora por aquela.

Bem, não me atrevo a contar mais do que isso, para não estragar as pequenitas surpresas do filme. Mas confesso que as coisas que mais me encantaram foram a fotografia (apesar de estar em preto e branco) e o modo como um conflito tão comum e tão importante foi tratado de forma tão lúcida e simples neste roteiro, que chega mesmo a ser didático em relação a princípios que só a partir da década de 70 passaram a ser considerados essenciais pela comunidade internacional. Ok, meu lado nerd de quem realmente gostou de se dedicar ao estudo do tratamento internacional das águas foi despertado. Mas mesmo para quem não cultiva esse lado nerd, vale a pena!

Fica a minha vontade e curiosidade para aprender mais sobre a complexidade da Turquia. É uma pena que quando viajei pra lá não tenha tido tempo e nem maturidade para admirar melhor sua riqueza.

10 de fevereiro de 2010

Aquele querido mês de agosto (Our beloved month of August)

Bem cotado, com muitas cenas de regiões de Portugal (em tese com boa fotografia) e uma oportunidade de ver o despontante cinema português no Brasil. Tal filme me chamou atenção. Logo quis ver, mas lá nessa época não deu. 
Neste fim de semana, comprei o filme no The Auteurs. Não esperava nada, mesmo porque não conheço cinema português e muito menos o estilo de qualquer diretor. Ainda assim, o filme surpreendeu-me negativamente. Nada de inovador no estilo (uma tentativa de filme metalinguístico e com inversões temporais), nada de inovador na fotografia (não tratou as belíssimas paisagens portuguesas com o devido valor) e nada de inovador no roteiro.
Parte tem como mote o trabalho de uma equipe para produzir um filme e escolher os atores para as personagens, com inserção de diálogos que tentam ser nonsense. A outra parte do filme é o próprio roteiro desse filme que se pretendia produzir e que conta a história de uma adolescente "orfã" de mãe (esta desapareceu de casa e nunca mais voltou) que canta em uma banda de música pimba formada por seu pai, seu tio e seu primo. Já para o meio do filme, óbvio que os primos se apaixonam e, desculpem contar, não ficam juntos no final. Oh, surprise!
Ok, ainda darei mais uma chance ao cinema português, já que esta foi a primeira mostra, mas isto já não começou bem, ê pah!
Por enquanto, vou ficar com um cineminha turco para cultivar minha paixão pela cultura turca. Para o fim de semana? Espero ver Invictus no cinema de verdade!