29 de dezembro de 2010

Chegando e saindo do Brasil para estudar

Um ano de intercâmbio em Portugal regado a novas amizades, aventuras e mochilões renderam-me, além da impagável experiência de viver fora, ótimos anos pós-intercâmbio. Depois de ser recebida por amigos e amigos de amigos na Europa inteira, quando voltei ao Brasil, foi minha vez de receber pessoas na minha casa e na casa dos meus pais. Foi muito gostoso passar os últimos 3 anos tentando ajudar e mostrando o melhor de São Paulo, Vale do Paraíba e Ubatuba principalmente.  Mas o mais confortante foi ouvir que todos sempre gostaram e que estou sendo até indicada como "Guia da cidade São Paulo" para intercambistas.
Assim, praticamente 5 anos depois de ter começado a me preparar para sair do Brasil e, se tudo der certo, preparando-me para sair novamente, decidi escrever alguns posts sobre essa experiência, com a esperança de que seja útil para brasileiros que pretendem fazer ou estejam fazendo intercâmbio na Europa e para intercambistas chegando em São Paulo. Pretendo contar com a colaboração de outros amigos estrangeiros e brasileiros que tiveram experiências diversas. Além disso, buscarei fazer os posts para intercambistas chegando ao Brasil em inglês.

4 de dezembro de 2010

Sabores do Brasil...

Com essa história de fazer aula de japonês na Liberdade pelo menos duas vezes por semana bem na hora da fominha e sempre ver vocabulário daquelas coisas deliciosas nos estudos (todo dia, sem chance de escapar), eu comecei a praticamente viver da vontade de comer comida japonesa. Sábado virou dia de Nandemoya, um restaurante de comida oriental por quilo que fica meio escondido mas está sempre lotado, e do Takoyaki da Rua Galvão Bueno (não lembro o nome do mercadinho onde fica o Sr. simpático, mas fica na altura do nº 270).

Recentemente, antes das aulas de sexta, fui também ao Kohii e ao Aska. O Kohii, criado por descendentes de japoneses, nasceu a partir de uma concepção menos tradicional. Segundo o gerente, a ideia foi desenvolver um cardápio e oferecer um ambiente brasileiros, mas sempre com um toque das raízes japonesas. Na minha opinião, foi muito bem sucedido e merece visitas! Já o Aska, é o Lámen mais tradicional da cidade, junto com o Porque Sim e o Lamen Katsu. No cardápio, só o tradicional, sem muitas opções (ótimo para os indecisos como eu), mas vale a pena! É saboroso e barato!

Mas eis que começa a chegar um pouco de ansiedade pela hora de partir e percebo que preciso me livrar dessa vontade e voltar a comer coisas da minha terra. Momento de parar e pensar necessariamente "preciso comer tudo de que vou sentir falta" (sem duplos sentidos, por favor!).

Comecei por repescar minhas experiências anteriores: do que senti falta em Portugal? Na verdade, não tive vontades absurdas de várias coisas. Como os pratos portugueses são fantásticos e baratos, eu me distraía bem. Além disso, eu praticamente comia um pão diferente a cada dia no café da manhã e no café da tarde, de tantas opções (todas boas) que havia. Ai, como eu sinto falta do bacalhau com natas e da broa alentejana! Ah, não posso me esquecer de que foi lá que aprendi a tomar café, de qualidade média muito melhor do que no Brasil. O café da cantina da faculdade era comparável a um Santo Grão e me custava 0,90euros (ou noventa cêntimos, como dizem os portugueses).

Mas eu cansei de passar longos períodos comendo só um tipo de fruta. Funcionava assim: eu ia ao supermercado e, durante muitas semanas, tinha pêra, pêra, pêra e pêra no mesmo preço médio do quilo de maçã aqui no Brasil, por exemplo. Isso era o mais barato. Pra lá disso, encontravam-se mais umas duas opções por uns 2,5euros/kg e todo o resto a pelo menos 5euros/kg. Como meu budget só permitia a fruta da estação... Senti falta também da incrível variedade que há em São Paulo para todos os bolsos! É bem possível comer muito em um mexicano ou japonês por R$ 30 (prova disso são o Si Señor e o Nandemoya). Além disso, pizza a R$ 15 é algo bem comum aqui. Lembro-me também que a carne bovina lá, importada da Irlanda, é tão ruim que eu sempre abria mão dela por um filé de porco, peixe ou frango. Só ao fim um dia do intercâmbio, veio uma grande vontade e me dei ao luxo de um pedaço de picanha, que nem foi difícil de encontrar e tampouco caro.

Aproveitei essa onda de calor, então e comecei a comer fruta em uma quantidade, variedade e frequência com que não comia antes... E descobri que não se trata mais só de comer tudo o que eu já conhecia de bom, porque finalmente fui à Sorveteria Frutos do Cerrado e me dei conta de que ainda tenho que descobrir uma imensidão. Quanta riqueza há no Brasil! E quão pouco conhecemos da nossa terra... Fiquei feliz de ver e provar tantos sabores diferentes, mas fiquei triste de saber que não sabemos apreciar nossa terra e nossos sabores, especialmente de tudo o que está acima de São Paulo. O cerrado, a caatinga e a Amazônia têm tanta coisa a nos oferecer de modo sustentável, mas por enquanto, só nos rendemos ao açaí, que está longe de ser o mais saboroso. Confesso também que fiquei com vergonha na frente da atendente da sorveteria: eu nunca tinha visto metade nos nomes que estavam acima das embalagens (Mangaba? Oi?).

Ao lado, do mesmo dono, há um restaurante de comida típica do Mato Grosso do Sul. Adivinha qual é a especialidade? Soba! Sim, o mesmo soba que veio de Okinawa é comida tradicional no Mato Grosso do Sul. Claro que amo essa pura demonstração de integração cultural!